quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Alucinações e Loucura


Alguma vez na vida você já deve ter se perguntado, mesmo que por brincadeira, "Estou ficando louco?", frente a alguma situação em que você reagiu de forma totalmente diferente do que você agiria ou em face de alguma experiência quase "sobrenatural" que tenha passado pelos seus sentidos. No artigo de hoje vamos...


O que é alucinação?

Primeiro, não me refiro aquela música do Belchior. Segundo para o dicionário da língua portuguesa, alucinação é: 

s.f. Sensação mórbida produzida por algo inexistente.
Devaneio, delírio, ilusão.
Obscurecimento passageiro das faculdades mentais.

Essa é a definição do dicionário, mas delírio e ilusão são outros sintomas psiquiátricos, então vamos a definição de alucinação para a saúde mental. Alucinação, segundo a definição do Dr. Cleto Ponte é uma percepção sensorial falsa não associada a estímulos sensoriais externos, o qual é aceita pelo paciente como verídica. É a percepção real de algo inexistente sem um estímulo externo. Dizemos que a percepção é real, tendo em vista a convicção inabalável que a pessoa manifesta em relação ao objeto alucinado, portanto, será real para a pessoa que está alucinando. 

Mas aí a grande questão que a maioria das pessoas imagina é: se estou alucinando, estarei louco? Estou perdendo a razão, a sanidade? A resposta é: depende. Vamos entender porque.

TIPOS DE ALUCINAÇÃO

Existem alucinações para cada um dos sentidos. 
Alucinações visuais: são as mais comuns, onde o indivíduo vê pessoas, seres, objetos, paisagens, qualquer coisa relacionada com a visão por mais absurda. Já tive pacientes que viam demônios saindo das pessoas, por exemplo.

Alucinações auditivas: também são bastante comuns, a pessoa ouve sons, vozes ou barulhos que não estão no ambiente. Geralmente essas vozes dão comandos ou reforçam uma ideia negativa que a pessoa tem de si ("Você é um fracassado", "Você vai morrer", "Ninguém gosta de você", por exemplo). Tive um paciente que disse que a Virgem Maria lhe disse que o mundo iria acabar e só restaria a cidade onde ele mora.

Alucinações gustativas: incomuns, mas curiosas. O sujeito tem a absoluta certeza de gostos e sabores em sua boca que não estão lá. Gosto de sangue, fezes e outras coisas. Já atendi uma paciente que relatava um gosto de pimenta na boca.

Alucinações táteis: a pessoa tem plena convicção de que há algo no seu corpo ou algo errado com o seu corpo. Há relato de pacientes que sentem formigas ou outro tipo de inseto em seu corpo.

Alucinações olfativas: também são incomuns, o paciente sente odores que não estão no ambiente, geralmente esses odores o acompanham o tempo todo, causando um incômodo constante.


Então, se eu tive algum tipo de alucinação desses, estou ficando doido? Vão me internar num Hospital Psiquiátrico? Claro. Que não. Existem alguns estados que podem ocasionar alucinações em uma pessoa mentalmente saudável.


ALUCINOSE ORGÂNICA

Neste tipo, o sujeito é acometido por alguma moléstia orgânica que o faz alucinar, não tendo a ver com transtorno psiquiátrico. Um exemplo clássico disso é a alucinose por abuso de álcool, uma vez que pessoa com histórico de alcoolismo pode alucinar devido a intoxicação pelo álcool ou pela sua abstinência. A utilização de drogas (lícitas ou ilícitas) pode provocar alucinação. Usar algumas categorias de medicamento e ingerir bebidas alcoólicas pode provocar alucinação. Problemas nos rins, quando os rins estão falhando e o nível de impurezas no sangue aumenta pode também provocar estados alucinatórios, revertendo o quadro quando a patologia é sanada. Drogas como LSD, Crack causam alucinação, abuso de cocaína e outras drogas também. Problemas metabólicos (uremias e diabetes) podem causar alucinação. Traumas (pancadas) na cabeça ou tumores cerebrais podem causar alucinação. Como vimos, em todos os casos citados o problema é essencialmente orgânico ligado a um fator externo que pode ser revertido dependendo da gravidade do problema, fazendo com que a pessoa pare de alucinar.


É possível alucinar sem que seja qualquer uma das situações acima e que não seja um transtorno mental? A resposta é sim! Privação de sono, estados intensos de estresse podem provocar alucinações passageiras. Quando se está caindo no sono e quando se está acordando é possível alucinar, e vou logo avisando que é um processo involuntário. Imagine que você está sonhando com um bombardeio, bombas caindo e explodindo tudo. Você acorda assustado, e mesmo acordado você ouve o barulho das explosões dos aviões por alguns minutos e depois tudo silencia. O nome disso é alucinação hipnopômpica, porque ocorre ao acordar. Agora se você está deitado na sua cama e está quase adormecendo, você sabe que está só no seu quarto e sente a cama afundando como se alguém deitasse com você e depois você dorme. Isto é uma alucinação hipnagógica, porque ocorre ao adormecer. Nenhuma é indicativo de algum problema, todo mundo passa por várias dessas durante a vida. 


Mas então como saber se uma pessoa que está alucinando precisa de tratamento? Alucinação é só um sintoma, o que caracteriza qualquer transtorno são uma série de sintomas, desta forma, depende não só da alucinação, mas do tipo de pensamento e comportamento que o sujeito está manifestando. O ideal é procurar um Psicólogo para que ele possa avaliar. 


OBS: Esse é um site para leigos, então procuro ser o mais claro e simples, evitando jargões complexos e excesso de teoria clínica. Se tiverem alguma duvida, podem perguntar nos comentários ou mandem um e-mail. 


Para saber mais: http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=103