terça-feira, 14 de abril de 2015

Limites do Atendimento em Psicologia: Psicólogo Não Atende Amigos e Parentes?


O objetivo desse texto é falar um pouco de um dos limites do atendimento psicológico, começando por uma dúvida constante da maioria das pessoas que acabam tendo algum laço de amizade ou parentesco com um profissional psicólogo e o porque do psicólogo não poder realizar atendimentos com essas pessoas.





A psicologia, assim como algumas outras ciências, tem certos limites éticos. Não há nenhuma resolução do Código de Ética que diga diretamente que o psicólogo não pode atender parentes ou familiares, entretanto ele fala no Artigo 2o item J, que é vedado ao psicólogo:

"Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado".


Significa dizer que não há uma proibição, mas o Código reconhece que essas relações podem interferir no serviço prestado. No meu ponto de vista, deixando bem claro que é uma opinião profissional minha mas compartilhada com a grande maioria dos meus colegas de profissão, é muito complicado atender parentes e amigos. O trabalho no profissional de Psicologia é pautado na escuta e no sigilo profissional, tanto que o Art. 9º discorre:

"É dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional".

As pessoas relatam seus segredos mais íntimos para o psicólogo, seus medos, seus problemas, suas
falhas de caráter e deve garantir que essas informações não sejam divulgadas a não ser sob a hipótese de por em risco a integridade do paciente ou de terceiros. Então imagine se, tendo um laço afetivo com o psicólogo, as pessoas teriam coragem de contar tudo, relatando todo o problema. Alguns pacientes que nunca me viram tem receio e demoram a confiar seus verdadeiros problemas. Certas pessoas podem argumentar que o fato de ser uma pessoa conhecida pode facilitar esse diálogo, mas imagine que o psicólogo precisa fazer perguntas muito íntimas e em certos momentos fazer intervenções dizendo coisas que poderia abalar o laço de amizade/parentesco. 

Como o psicólogo vai dizer o que é necessário se tiver medo de que o paciente, que é seu amigo/parente,  fique magoado com suas palavras? Como esse mesmo paciente vai ouvir e seguir as orientações desse psicólogo se isso envolve uma terceira pessoa que ambos conhecem? Imagine a situação, um irmão falando do outro e o psicólogo conhece ambos, um é atendido o outro não. Pode haver uma discórdia só pelo fato de um deles abordar o psicologo e querer saber o que é tratado na terapia. Existem inúmeras situações que podem gerar sentimentos ambíguos, confundir, misturar ideias.

Quanto mais neutro, melhor o trabalho do psicólogo. Quando há outros tipos de vínculos que não sejam os terapêuticos isso põe em risco a confiabilidade do processo, uma vez que mesmo embasado por técnicas cientificas o psicólogo é um ser humano, dotado de sentimentos, vontades, desejos e atender alguém com vínculos de amizade ou parentesco pode afetar seu julgamento, desvirtuando assim o sentido da terapia. Espero ter sido claro.

Dúvidas e sugestões: leonardobozzano@hotmail.com

Código de Ética do Psicólogo: http://www.crpsp.org.br/portal/orientacao/codigo/fr_codigo_etica_new.aspx#1

Site do Conselho Regional de Psicologia do Ceará/Piauí/Maranhão: http://www.crp11.org.br/

38 comentários:

  1. Ficou claro para mim a importância de não poder atender pessoas ligada ao terapeuta.

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  2. Boa tarde. Gostaria e saber se é permitido ao psicologo abandonar um caso sem que o paciente tenha obtido alta. Grata

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    1. Olá, o psicólogo pode desistir de algum caso, por qualquer que seja o motivo, desde que informe ao paciente que não poderá mais acompanha-lo e que o encaminhe para outro profissional.

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  3. A paciente q eu atendo irá trabalhar no mesmo local q eu. E aí é viável continuar a terapia?

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    1. Recomendo encaminhar esse paciente para outro profissional, porque com o contato diário no ambiente de trabalho, pode gerar uma confusão nos papéis e interferir no processo terapêutico.

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  4. Uma ex colega de trabalho me encaminhou a filha para atendimento. Atualmente, a vejo mensalmente em reuniões relacionadas ao trabalho. Devo atender?

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    1. Existe aí um vínculo com esse ex-colega, vai haver, por parte dele, uma expectativa em relação ao acompanhamento da filha. Caso aconteça algo, ela piore, por exemplo, ou não atinja o resultado que ele espera, a carga de responsabilidade que você vai absorver poderá ser muito maior.

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  5. Uma psicóloga que mora em um condomínio pode atender pacientes em seu apartamento?
    Moradores se incomodam com entra e sai de pessoas desconhecidas e ficam nervosas quanto a alguém sofrer uma crise e fazer maus para suas crianças que ali estão nas áreas comuns.

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    1. Olá, eu respondi sua dúvida aqui nessa postagem: http://psicologizzano.blogspot.com/2017/11/psicologo-pode-atender-na-sua-residencia.html

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  6. A psicologa do meu marido, que sofre alienação parental a mais de 1 ano resolveu atender a filha de 10 anos para colher informações da menina, porem agora resolveu tb chamar a mãe( ex mulher). Particularmente fiquei revoltada com a atitude dela de profissional, pois ela sabe tudo que passo alem do meu marido ser paciente dela.Ela nao é preparada para o assunto e alem disso como posso agora confiar nela. Simplesmente sai excluindo ela de tudo, whats, face, e meu marido acha que ta tudo certo.Será que estou errada?

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    1. Seu relato ficou um pouco confuso, se você descrever melhor a situação eu poderia dar uma resposta.

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  7. Boa noite Leonardo!

    Dúvida!

    O psicólogo pode atender na Clínica uma paciente que já faz terapia em domicilio com outro profissional, no caso outro psicólogo?
    Grata

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  8. Olá Miriam, obrigado pelo comentário e por trazer sua dúvida. Segundo o código de ética do psicólogo:

    Art. 7º, que diz:
    Art. 7º - O psicólogo poderá intervir na prestação de serviços psicológicos que estejam sendo efetuados por outro profissional, nas seguintes situações:
    a) A pedido do profissional responsável pelo serviço;
    b) Em caso de emergência ou risco ao beneficiário ou usuário do serviço, quando dará imediata ciência ao profissional;
    c) Quando informado expressamente, por qualquer uma das partes, da interrupção voluntária e definitiva do serviço;
    d) Quando se tratar de trabalho multiprofissional e a intervenção fizer parte da metodologia adotada;

    Então é fundamental ter comunicação e conhecimento de todas as partes e, é claro, o objetivo dessa intervenção. Meu questionamento é, se o paciente já é atendido em domicílio, qual a função ou finalidade de um atendimento clínico com outro profissional? Até porque os psicólogos trabalham com diferentes perspectivas teóricas, algumas bem opostas, além de que o vínculo terapêutico seria diferente com os dois profissionais. Então é importante ter um objetivo e seguir essas orientações do código de ética.

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  9. bom dia, minha esposa se trata com uma psicologa desde a nossa separação. ficamos dois anos separados e resolvemos reatar nosso casamento. estou tendo varios problemas com minha esposa e ja tentei por inumeras vezes conversar com a psicologa dela até para dar um retorno sobre o comportamento dela. ela se recusa a me ouvir e diz que precisa da autorização da paciente para isso. estou pensando em fazer uma reclamação diretamente no conselho, porque toda vez que ela volta da sessão nós brigamos feio e ela ja vem insistindo na separação novamente. como posso proceder???? ao meu visto ela só esta tomando dinheiro de minha esposa.

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    1. Olá! Os conflitos com sua esposa tem causa na forma como vocês vem se relacionando, não é produto da terapia. Nenhum psicólogo pode repassar informações acerca de seus pacientes, estando resguardado pelo Código de Ética profissional. Legalmente, a atitude da psicóloga está correta. Assim como ela tem liberdade para escolher falar ou não com você. Minha sugestão é que você também procure um psicólogo e comece a fazer terapia para aprender a lidar melhor com os conflitos do relacionamento.

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  10. Minha filha se trata com uma psicologa da mesma clínica em que eu trabalho,tem chance desse tratamento obter um bom resultado?

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  11. Olá! Entendo sua dúvida, mas não há problema, desde que você não faça terapia com essa psicóloga nem tenha um vínculo com ela fora do ambiente de trabalho.

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  13. Olá! Em minha primeira consulta com uma psicóloga, ela deixou meu esposo entrar,e perguntou se gostaríamos de tratarmos o relacionamento conjugal ou individuais, acabou que ela vai nos atender individualmente, até que ache possível nos tratar juntos como casal. Minha dúvida é, se ele revelar pra ela que não me ama ou me trai,mesmo assim ela vai agir comigo normal,ou irá continuar me induzindo a lutar pelo meu relacionamento? Tenho mais dúvidas rsrsrs

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    1. Olá! Não há uma regra formal que impressa a psicóloga de atender vocês dois em atendimento individual, mas isso pode gerar um conflito de interesses, não é uma postura ética. Ela poderia atender um de vocês e encaminhar o outro para outro psicólogo, ou atender ambos através de terapia de casal ou outra modalidade de atendimento em grupo. Não é recomendável atender pessoas que se conhecem ou que tem vínculo familiar por conta do conflito de interesses que isso pode gerar e com certeza atrapalhar o processo terapêutico.

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  14. Eu queria ser pisicologa justamente pra ajudar minha família.Nao aguento mais ver tanto sofrimento sem poder fazer bara!Me sinto inutii e também estou adoecendo com isso.Agora com esse POST,morri de vez!😭

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  15. Olá Diana, existem muitas outras formas de ajudar sua família. Você pode procurar os serviços de saúde mental na sua cidade, se informe no posto de saúde da sua região.

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  16. Olá gostaria de saber se pode uma criança com mutismo seletivo ser atendida por dois psicologos diferentes?
    Minha filha foi encaminhada à psicóloga aos cinco anos, e diagnosticada com mutismo seletivo. Porem a psicóloga atendeu por dois anos e deu alta, sem ter melhora. Depois de um tempo, a neurologista encaminhou novamente à psicóloga pra tratamento contínuo, mas devido à demora em chamar, procurei outra profissional (particular), e agora chamaram na mesma q acompanhou desde o início(pelo Sus). Posso continuar com as duas? Uma sabe da outra e dividem informações sobre a paciente.

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  17. Minha esposa resolveu se tratar com uma psicologa, já é o terceiro profissional, com essa são 4 meses, na segunda sessão já combinou com a psicologa de fazer algumas sessões para nossa filha 13 anos, a 2 meses falou que seria mais uma ou duas sessões para nossa filha e o trabalho estaria finalizado, mas já foram pelo menos mais umas 8 e marca para toda semana, não tocou mais no assusto de terminar. Eu penso que está se aproveitando da vulnerabilidade dela.

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    1. Olá! Não faz muito sentido a psicóloga atender sua esposa e sua filha, ou atende um ou atende o outro, porque isso pode gerar um conflito em relação a relação com ambas. Ao mesmo tempo, sua esposa pode não estar querendo fazer terapia ou ser atendida por essa profissional. Converse com ela primeiro e depois decidam qual a melhor opção.

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  18. Olá Bom Dia. Tenho problemas com minha mãe pois ela é muito controladora e procureia um psicólogo só q eu contava um problema ele falava q minha mãe tinha razão. Achei muito estranho, ao invés dele me ajudar ele só piorava a situação.E com o passar do tempo ele foi fazer uma visita na casa da minha mãe e ele ficou pior em relação a me ajudar pois minha mãe e o psicólogo tem os mesmos comportamento, eu esperava 4 horas pra ser atendida e qnd ele me atendia a duração da consulta era no máximo 15 mnts. Foi difícil eu conseguir interromper a terapia pois ele começou fazer muitas chantagens. Oq devo fazer nessas circunstâncias?

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    1. Olá Raquel, esse tipo de postura profissional não é comum. Esse psicólogo trabalhava em algum serviço público, ou foi particular? Infelizmente no serviço público os profissionais acabam tendo muitas limitações, uma delas é o tempo de atendimento em virtude da grande demanda. No caso, se você procurou um profissional para atender sua mãe ele deveria se limitar a atende-la e passar a você somente informações essenciais para ajudar você a compreender o estado de sua mãe e a melhor forma de interagir com ela. O psicólogo não tem que concordar ou discordar com ninguém, mas auxiliar o paciente a lidar com suas necessidades. Outro ponto fundamental é que nenhum psicólogo pode impedir o paciente de encerrar a terapia, mudar de profissional isso é um direito de qualquer um. Não sei que tipo de chantagem você se refere, mas se o comportamento dele foi antiético você pode denunciar, basta procurar o Conselho de Psicologia que abrange seu Estado. Se você sentiu que o psicólogo feriu princípios éticos e profissionais você pode procurar outro profissional, é seu direito, embora a questão da denúncia fique a seu critério.

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  19. Fiz terapia num lugar que a sessão durava 30 minutos, o preço era simbólico, apenas com o intuito de ajudar a comunidade, no entanto o projeto é de uma igreja evangélica. Isso é correto?

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    1. Se não houver nenhum tipo de doutrinação religiosa, não tem problema. O atendimento do psicólogo deve ser livre de qualquer tipo de influência religiosa.

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  21. Olá, minha madrinha mora em outra cidade e está fazendo terapia. Meu avô está em estado terminal e convive com minha madrinha.
    Meu avô não quer vir morar com minha mãe, pois é outra cidade.
    Minha mãe manda dinheiro para minha madrinha, ajuda a pagar a cuidadora para meu avô. E ela já foi inumeras vezes para a outra cidade afim de cuidar do meu avô.
    A psicologa da minha madrinha, tomou a iniciativa de ligar para a minha mãe dizendo que não iria permitir que meu avô fosse morar com ela, e tambem ameaçou minha mãe com um processo onde ela iria pagar sozinha os custos do meu avô.
    Porem, todo dinheiro que minha mãe envia para a minha madrinha não é utilizado com meu avô, pois a minha madrinha gasta tudo indo no motel com varios homens.

    A psicologa pode ligar para a minha mãe, atormentando e aborrecendo ela mesmo que minha mãe, não tenha nada haver com a terapia da minha madrinha?

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    1. Olá, sua dúvida será respondida em breve numa postagem do site preservando sua identidade. Mande suas dúvidas para: https://curiouscat.me/Psicologizzano.

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  22. Olá, atendo uma mulher e ela gostaria muito que eu atendesse a filha dela também, separadamente, não como terapia familiar. Não achei nada contra isso no código de ética, porém estou na dúvida. O que você acha? O mesmo psicologo pode atender mãe e filha?

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    1. Olá, sua dúvida será respondida em breve numa postagem do site preservando sua identidade. Mande suas dúvidas para: https://curiouscat.me/Psicologizzano.

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  23. Olá, eu trabalho no serviço público cobrindo as unidades básicas de saúde, eu gostaria de saber se existe alguma orientação em relação a o número limite de pessoas que podem ser atendidas no dia, ou que orientem até quantas pessoas pode-se atender sem que comprometa a qualidade dos atendimentos. Obrigado

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    1. Olá, você não deixou claro, mas imagino que seja psicólogo. Num turno de 4 horas, o psicólogo em geral atenderia 4 pessoa num consultório particular. É o tempo adequado para ouvir a história e as queixas do paciente. Sabemos que, no serviço público (e trabalhei muitos anos no serviço público) a demanda é muito grande e os recursos são escassos. Obviamente que quanto maior o número de pessoas que o psicólogo atender num turno, mais irá comprometer a qualidade do serviço prestado. Pensando em números eu diria que no máximo 8 pessoas por turno, o que por si só já é um número considerável.

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  24. Uma pessoa conhecida me pediu atendimento psicológico. Participamos do mesmo grupo de canto da igreja. Não somos amigos daqueles de sair, passear, bater papo. Nosso único contato é uma vez por mês no ensaio e na missa. Posso atendê-lo?

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