quarta-feira, 26 de outubro de 2016

O QUE É O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE?

Hoje falaremos de um transtorno que ocorre em uma certa parcela da população e que muitas pessoas nem sabem que tem, o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).

De acordo com o DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5a Ed), o TPB é: 

"Um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem, e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos..."


Traduzindo, a pessoa com TPB seria alguém com dificuldade em estabelecer relações interpessoais por conta de uma comportamento que vai mudar muito de acordo com a situação. Essa instabilidade se estende a como a pessoa se percebe, assim como seus próprios sentimentos e a pessoa também faz muitas coisas sem pensar. Parece estranha essa definição, mas vou tentar explicar mais do comportamento da pessoa com TPB.

Esse tipo de paciente possui uma carência afetiva inesgotável, sempre demandando muita atenção de todos ao redor; quando essa atenção é correspondi
da a pessoa se sente ótima, realizada, mas quando se sente rejeitada a frustração assume grandes proporções, fazendo com que a pessoa tenha reações muitas vezes desproporcionais e agressivas. Isso se dá por essa instabilidade em relação as emoções e os afetos, citada no começo do artigo. Existe um medo imenso do abandono, seja real ou imaginário (grande parte das vezes é imaginário, e faz com que a pessoa tenha reações negativas frente a situações comuns).

Outra característica é que o paciente com TPB sente um vazio existencial tremendo, aliado a necessidade de atenção gera relações (namoros, casamentos e outras). Os relacionamentos com as pessoas são sempre complicados devido a essa demanda de atenção. Isso leva a pessoa com TPB a manipular as pessoas ao redor para obter o que deseja, na maioria das vezes sem perceber o próprio comportamento manipulativo. Quando confrontado com a verdade, tende a se vitimizar, negar ou criar justificativas vazias como forma de se proteger. 

Se estima que cerca de 6% da população seja portadora desse transtorno, grande parte não diagnosticada. Geralmente é um transtorno que se desenvolve no início da vida adulta, mas pode ocorrer na adolescência, é cinco vezes mais comum em pessoas com parentes próximos com algum tipo de transtorno e cerca de 75% dos pacientes diagnosticados com TPB são mulheres. 

É DIFÍCIL DIAGNOSTICAR ESSE TRANSTORNO?

Depende. É preciso que o profissional conheça bem os critérios diagnósticos e tenha experiência em atendimento clínico. Isso ocorre por ser um transtorno de personalidade, onde o paciente mantém um comportamento manipulativo, por isso nem sempre a primeira vista é possível perceber. Geralmente se percebem outros problemas, outros transtornos ou comorbidade, como chamamos em psiquiatria. Então, por exemplo, é mais fácil perceber uma depressão, ou um transtorno de ansiedade, quando na realidade é um paciente com TPB com depressão ou com transtorno de ansiedade. Sim, é bem comum essa "mistura" de diagnósticos. 


O paciente chega no consultório com a queixa de depressão, ansiedade ou qualquer outra coisa, ele simplesmente não consegue perceber que existe algo mais, algo além em seu comportamento que é estranho. Com um olhar apurado, um bom profissional pode perceber o padrão e os comportamentos que se encaixam nos critérios para TPB.


OUTRAS CARACTERÍSTICAS IMPORTANTES.

Além do mencionado, outros pontos importante precisam ser destacados. Um deles são as tentativas de suicídio. Cerca de 13% das tentativas de suicídio são feitas pessoas com algum transtorno de personalidade, dentro deles o TPB. 

Alguns pacientes também tem um comportamento de automutilação, que não necessariamente é uma tentativa de suicídio. Na maioria das vezes é uma forma de suportar a dor emocional que sentem, usando a dor física como uma "distração" para esse sentimento negativo tão avassalador. 

Outro ponto importante é que muitos pacientes com TPB não consegue dar seguimento as suas carreiras acadêmicas, ao trabalho, mais por uma questão de autosabotagem e do padrão instável de relacionamento com os outros. A instabilidade emocional gera muitas brigas, explosões de raiva, e até mesmo agressões físicas. 

Muitos pacientes com TPB tem um padrão de impulsividade relacionado a sexo, ou seja, são compulsivos por sexo, por compras, abuso de drogas ou compulsão alimentar. Esses pacientes não conseguem lidar com a impulsividade e acabam prejudicando-se muito por não saber lidar com isso. Daí outro fator que pode mascarar o Transtorno de Personalidade Borderline, quando as pessoas só conseguem perceber as compulsões por ser algo mais evidente e podem, equivocadamente, acreditarem que o problema daquele indivíduo seja a dependência química/sexo/gastos compulsivos.

QUAL É O TRATAMENTO E O PROGNÓSTICO?

Diante do que foi relatado acima fica fácil entender porque esse quadro é tão complicado e tão difícil de interpretar. Então qual é o tratamento? Infelizmente não existe uma medicação para nenhum transtorno de personalidade, tratamos os sintomas com a medicação. Então se o paciente relata muita tristeza utilizamos antidepressivos, se o comportamento impulsivo é muito intenso administramos uma medicação que atenua essa impulsividade e assim seguimos. Ao mesmo tempo é importante um acompanhamento com o psicólogo para a realização de psicoterapia, pois esse procedimento que vai ajudar o paciente a compreender e lidar de forma mais positiva com seus sintomas. 


Pacientes não tratados tem uma tendência muita grande a autodestruição, não somente da vida pessoal, laboral, mas da vida em si, com grande possibilidade de concretizar o suicídio ou se envolver em situações de risco devido ao comportamento impulsivo. Assim, quanto mais cedo e mais bem feito o diagnóstico e o tratamento, melhor.

Tentei sintetizar aqui o máximo de informação possível acerca desse transtorno. Evitem o autodiagnóstico, procurem um profissional. Qualquer dúvida entrem em contato. Até!


Referências:

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-5: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

http://www.psicologiasdobrasil.com.br/entenda-como-lidar-com-uma-pessoa-que-tem-o-transtorno-borderline/

http://www.psiconlinews.com/2015/03/transtorno-de-personalidade-borderline.html











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